sábado, 31 de maio de 2008

Sereias, essas desconhecidas...

Manhã cinza e preguiçosa, são seis e quinze, o tempo urge, estamos acordadas, falantes, elétricas, caminhando a passos largos, com respiração ofegante. No alto de sua perseverança estética, Flavia pergunta a todas nós, que enfrentámos bravamente a segunda semana de jogging no camping:
- Será que, quando eu for mais velha e experiente, eu vou ser uma coroa sarada, que corre com legging, toda disposta, ouvindo música num iPod?

Segundos de hesitação, silêncio sepulcral e ela mesma responde ao enigma, sonoramente, enquanto gargalhamos em coro:
- Não!

Ser mulher tem lá algumas benesses, não vamos negar. No entanto, existe um calvário marcado por algumas escolhas intimamente conectadas à beleza, outras horas de sono subtraídas para esse fim, doses cavalares de disciplina e, o pior: algumas renúncias de ordem gastronômica. Uh, diria que aí é que mora o perigo maior. Sim, somos focadas, obstinadas, queremos ter curvas de sereia e a sinuosidade de um pretzel. Sim, sim. O único problema, meus caros, é que não dá pra fazer nada nessa vida sem as cia. das nossas mazelas, vocês bem sabem. As coisas nunca seguem um fluxo típico e previsível quandos nos juntamos para fazê-las.

É oportuno contar como tudo começou. Após reunião do comitê, onde houve decisão quase-unânime por fazer atividade física para ficar de bem com a balança no verão, definimos a frequência da empreitada: quantas vezes fossem possíveis na semana, com mínimo de 3 e teto desejável de 5 caminhadas. Enquanto isso, na sala de Justiça, Roberta discordava, esperneava e retrucava: andar é chato, andar faz mal, andar não leva a lugar algum - oras, Robertex, andar sempre nos leva a algum lugar, literalmente!

Fóruns e contendas à parte, eis que planejamos a primeira largada às seis da madrugada do dia seguinte. No entanto, eis que em plena madrugada Flavia ouviu passos lentos e sorrateiros na direção do trailer. Tremeu, apavorou, rezou, viu o filme da própria vida, pensou em ligar pra Polícia, pensou que um sufocador nos atacaria covardemente. No ápice do pânico e do ranger de dentes, ela se vira para gritar histericamente por socorro, e quase tem um treco ao se deparar com a Lari, que ia abrir a porta para o Enzo, seu futuro esposo, gente finíssima e nada-sufocadora, óbvio. A primeira pergunta da Flavinha depois de entender que tínhamos apenas uma visita no lar, doce trailer: "Então a gente não caminha hoje cedo, certo?!". Tsc, tsc. Por isso é que o nosso país não vai para frente, vocês hão de convir.

Novo dia, outros planos, e eis que fomos mexer os corpitchos, finalmente. Na primeira corrida, em pleno aquecimento, cantava-se canções consagradas de Shakira e outros hits em volume tão ensurdecedor que chegamos a temer a expulsão coletiva e imediata do camping. Na segunda,vez, quando o guardinha surgiu por trás de um arbusto, Flavóta deu um berro que exercitou plenamente as cordas vocais dela, pelo menos. Nesse mesmo dia, fomos até um lago, que acompanha grátis uma rampa que colocaria para fora um palmo de língua de qualquer mortal que circunde essa Terra de Meu Deus. Se a vida é fácil? Nahh.

Pra completar esse enredo conspiracional, corremos por três dias e:
a) No primeiro, almoçamos no McDonald's - o enredo de Super Size Me não foi lição suficiente pra abolir essas tralhas das nossas vidas por definitivo;
b) No segundo, traçamos um rodízio de pizza no Viena ao final do expediente, no Shopping Tamboré - Flavs foi até lá para comprar um tênis pra caminhar - paradoxal isso, não?
c) No terceiro, traçamos morângulos e chocolate em calda - uhn, frutas são milionárias em fibras, certo?
d) Nesse mesmo dia, Robertinha cedeu, se uniu a nós, e sentiu uma coceira insana nas pernas, como se correr criasse pulgas no organismo de pobres mortais como nós, que só queriam melhorar seus condicionamentos físicos. Aiai...

Ah, o dia dos morângulos e chocolates foi o mais bonitinho - Robertósa, a parcela geralmente anti-corrida da trupe, pediu que fizéssemos um "programa de amigas" e que desistíssemos da saga calórico-eliminadora. Quase cedemos. Mas não, Nsa. Sra. do Corpão Violão que nos bendiga, amém, porque o Projeto Sereia 2008 sofre mais ameaças do que os inimigos da Al Qaeda. Fomos, firmes e quase fortes, enfrentar o circuito. ;-)

(Parêntesisrápido: na primeira manhã em que recebemos de Roberts a negativa para malhar logo cedo, programamos nossos despertadores para tocar, em coro, a cada 5 minutos. Quem não perde calorias, perde pelo menos o sono... Fechaparêntesis)

Beleza é pauta nova em nosso meio, os brainstormings semanais são constantes a esse respeito: um dia vamos parar com o carboidrato, em outro comer frutas, no outro tomar vitaminas com linhaça, e talvez colocar esparadrapos nas respectivas bocas, além de tomar sol e fazer topless no verão, à borda da piscina. A parte boa da coisa é que as questões mais banais nos rendem, fatalmente, diversão. Uh, e como.

Ah, por falar em beleza, lá vai "a última frôr do lácio", como diria o honorável Zé Simão: dia desses, Lari e Roberta discutiam produtivamente sobre remoção de maquiagem. O conselho da Lari, phD em cosméticos importados: "Ah, use o Clean & Clear pra retirar o excesso de delineador... mas feche o olho pra passar, tá?". Mas aí, macacada, desenvolver essas conversas proferidas a partir do nosso universo paralelo já vai é render oooutra história, que vai ficar guardada pra depois. Aguardem e confiem!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ato I: apresentando as personagens

Se toda trama faz marketing agressivo em sua estréia através do elenco de feras de maior grandeza, aqui as coisas não poderiam ser diferentes... vamos, pois, conhecer as heroínas dessa saga?

Flavia Catelli
Super-poderes:
esquecionalização, pontaria-podre para namoradinhos, figurice-comportamental.
Grandes feitos:
Ao saudar uma telefonista que falava espanhol, dia desses, animadamente proferiu "Buenos Aires!" no lugar de "Buenos dias!". Compôs novo nome pra dupla sertaneja peso-pesado, chamando-a de "César Miano e Marinóte". Jura ter visto, na imensidão dos céus, a "auréola boreal". Em parceria com a Karina, é dançarina oficial do consagrado passo da galinha. Quando saiu pra fazer cooper conosco pela primeira vez, tomou um susto tão grande com um dos seguranças do camping que gritou em tonalidade lá maior, com potência de trocentos decibéis, e quase estourou os tímpanos do guardinha - ô, dó. Na primeira tentativa de socializar com um esquilo que habita o coqueiro em frente ao trailer, também tomou um nocaute, ou melhor, uma "cocada" (que, aqui, é o mesmo que golpe com usufruto de coquinho) desse bichinho muito do valente.

Roberta Andrade
Super-poderes:
superinteligência culinária, superpreguiça malhacional, superchoradeira induzida.
Grandes feitos:
Expressou, publicamente, o desejo de implodir a antena parabólica, que não transmite a saga de "Amor e Intrigas", produção "quero ser novela das 8" que passa na Record - buscando incessantemente o sinal desse canal, fez a Lari ir, na calada da noite, para o lado de fora do trailer para ajeitar a antena. Imaginem os gritos: "Iiiisso, iiiisso, ééé... vish, tá tudo formingando no canal, tá uma b*sta isso aqui, esquece...". Chora copiosamente vendo "Um amor pra recordar", cortando cebola, pulando em um pé só, lendo bula de remédio, ouvindo propaganda eleitoral e examinando embalagem de Tang. Já teve a pachorra de acordar 100% das habitantes do trailer às 04h30 da matina, pra avisar que ainda tínhamos duas horas a mais de sono da beleza. Ah, por falar em dormir, use esse "vale-tirar-sarro" com ela: Roberta dorme SORRINDO - simpatia sonâmbula, vejam vocês! Marcel, nosso amigo querido e de longa data, adora acordá-la na alta madrugada, pura e simplesmente por hobby. Ah, em tempo: ela tem SÉRIOS problemas com direita e esquerda - "não gente, não é essa direita, é a oooutra!".

Larissa Kaiser
Super-poderes:
Mega-força com latas de palmito, carisma-da-Sandy, espanholização-paraguaia-induzida, hipnose de torneiras no chuveiro.
Grandes feitos:
Representando a parte mais meiga e boa-praça da patota, a Lari é superintendente do núcleo diplomático da nossa convivência. Acometida de lombrigas - várias delas, é sempre a primeira a lembrar-se do bolo de chocolate na geladeira, ou que morângulos precisam acompanhar suspiros, além de leite condensado e creme de leite. São dela os pijamas e pantufas mais estilosas do mundo. Madame Larissa queria atualmente que o idioma mundial fosse o espanhol - enquanto faz as lições de casa do curso, ela obriga Deus e o mundo a buscar vocábulos dos hermanos no dicionário, e a completar frases das tarefas dela no clima maroto da mais "livre e espontânea pressão" - si, porque las garantías somos nosotras!

Vivian Bertachini
Super-poderes:
Expressionalização cômica, gastronomia-palhaça, desenhice-animada avançada.
Grandes feitos:
Está em processo gradual de surdez - dizem que essa coisa se chama Mal da Véia. Ela escuta "leite quente", entende "tô doente". Vejam se a gente pode com esse quadro médico... é a estagiária mais cômica da galáxia quando o assunto é cozinha, e acha que picar duas salsichas de uma vez é indício de absurda habilidade já adquirida por ela. Dissipou pelos quatro campos do globo as seguintes expressões memoráveis: "Arrasou, Fulana!", e "Ish... você tá mara!", onde 'mara' é maravilhosa. É a baronesa do condado de Aguaí - **sing ** "cada um no seu condado, cada um no seu condado!" (Está bem, o surto funk já passou. Ufa.)

Karina Lima
Super-poderes:
Pupilas super-secas, vocabularização descabelada, cretinibilidade, biblioteca musical-mental, salsichionalização de textos.
Grandes feitos:
É detentora dos hábitos mais inusitados - come pães de canela e passas, mistura abacaxis e mangas aos pratos de comida, faz massarocas de farinha e pimenta em tudo o que traça, também. É dotada de absoluta estupidez geográfica, desorientada até o osso, analfabeta para compreender mapas e reconhecer lugares. Estuda canto, mas não alcançou o estrelato - é tão vidrada em música que praticamente tem um iPod no cérebro, reconhecendo desde Genival Lacerda até Joe Satriani. É a cabeça da máfia que produz os acidentes hidráulicos da casa, destruindo chuveiros, esfriando a água, causando transtornos. Não se limitando às fronteiras do mundo aquático, ela já esteve perto de queimar a própria peruca no forno, ao tentar acendê-lo nas comemorações do aniversário da Frávia. Tem humor ácido, perde o amigo, mas não a piada, gesticula que é um absurdo e é acometida da síndrome da Bridget Jones - professa com veemência que, se toda panela tem tampa, ela é uma panquequeira. Afirmam que ela engoliu um dicionário, e que por isso é capaz de escrever, por exemplo, "você é um picareta" com 264 vocábulos diferentes e desconhecidos.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Malas prontas?

E eis que a lenda urbana, então, se materializou. Sim, cinco moçoilas dotadas de, no mínimo, uma pitada de coragem e algum senso de oportunidade toparam a empreitada de abrir mão do conforto e conveniência de seus respectivos ninhos maternos para morar, no alto de seus gloriosos vinte e poucos anos, em um trailer.

Aí, em um momento de total introspecção, você pensará: um o quê, hômi?! T-R-A-I-L-E-R? É, cidadão. Trailer. Bingo. Isso mesmo. Boa, Flipper!

Para você, desavisado de plantão, lá vão algumas evidências acerca desse fantástico universo:

a) O trailer da vez, esse aqui mencionado, não é recinto para comercialização de ródogs - trailer não precisa se alocar em frente à sua universidade para ser um trailer, pois;

b) Pra "móde" morar em um trailer, você não precisa ser um domador de leões no circo, um hippie ou um andarilho solitário: há gente muito da "normal"*NDAT morando dessa maneira diferente e, vamos combinar, pra lá de estilosa - trailer não é sinônimo de vida mambembe, ladies and gentleman;
*NDAT (nota depois do argumento trailerístico): e de perto, alguém é normal, por acaso?!

c) Quando você mora em um trailer, ter um urso selvagem e temperamental como vizinho não é uma condição sine qua non. O nosso novo QG, por exemplo, está em território pacífico, cercado por bípedes, um esquilo simpático e uma penca de componentes pertencentes à adorável família da infra-estrutura de hospedagem - yuhu!

d) Pra viver em um trailer, você não acende fogueiras, se alimenta de calangos ou compartilha sanitários com zilhões de pessoas. Por aqui, há privacidade, secador, chapinha e água quente, sim senhor!

Ah, sim, vamos logo esclarecer um detalhe técnico importante antes de seguir com essa prosa: em matéria de "vida de caramujo", levando a casa nas costas, há duas alternativas cabíveis: motor homes e trailers. Um motor home parece um ônibus, em que motor e a casa ficam juntinhos. Em contrapartida, trailer é o que vem separado e a gente reboca com o automóvel. Tanto um quanto o outro são pouco convencionais por aqui, mas em outros países é bastante comum viajar ou morar nessas engenhocas, acreditem, tão inusitadas.

Momento IBGE: o trailer das cinco mulheres está localizado na Aprazível província de Araçariguama, a poucos minutos do nosso templo corporativo, em Alphaville. Assim como em um clube, há segurança, piscinas, quadras de tênis, campo de futebol, parquinho para os pequenos, trilha para fazer jogging, cantina, lago... tudo isso está entrecortado por um montão de áreas verdes que servem como moldura para os trailers, motor homes e chalés pertencentes à gente sortuda que foi parar por aquelas bandas. Há água quente nas torneiras, há TV, microondas, DVD, churrasqueira, iPod com caixinha acústica, aquecedor, Nutella, Sucrilhos e sobremesas-ultra-calóricas carinhosamente enviadas por mamães, vovós e afins. Se passamos bem? Ah, bobagem...

Morando lá, guardamos em várias gavetas da memória o melhor conteúdo possível para lembrar, com alegria, do passado: nos tornamos máquinas de "causos", histórias fantásticas, festas, teorias descabidas, sessões de DVD, gargalhadas sonoras. Talvez seja essa uma das fases mais engraçadas e, claro, barulhentas de nossas vidas.

Bem-vindos à bordo, e aproveitem a viagem!